Dia 4 (16 dejulho) - Caminhada do Jardim Botânico até Roça Chamiço

Começámos o dia com uma visita guiada ao pequeno Jardim Botânico. Tem muitas espécies interessantes, nomeadamente plantas e árvores com múltiplos usos nomeadamente a medicina tradicional. Vimos o pau sabão que supostamente serve de sabão para lavar roupa, mas o David experimentou e não funcionou muito bem…
Descemos em altitude, voltando à roça Nova Moca para nos encontrarmos com o guia Aristides. Metade do percurso até à Nova Moca foi de boleia numa caixa aberta junto com os trabalhadores que andavam a capinar. A maioria destes trabalhadores vinha com as mãos/camisolas cheias de chus-chus.
boleia na caixa aberta

No passeio deste dia passámos por plantações: cacau, café, bananal... Na Bemposta, aldeia do Aristides, visitámos a infaestrutura onde se faz a primeira preparação do café: lavagem, separação do grão da casca (esta é utilizada como fertilizante para a agricultura), secagem em estufas. Ficámos a saber os 2 tipos de café que são produzidos: robusta e arábica. O segundo com um muito maior valor comercial.

Neste dia o percurso foi sempre plano, fresco e cheio de vegetação. Fomos comendo a fruta que apanhávamos: framboesas, bananas, goiaba, tomate capucho, pera abacate, cana-macaco, toranjas... Este trilho presta-se muito a fazer de BTT ou em trail-running.

Vimos uma planta endémica de s.tomé, daquelas que fazem as delícias dos botânicos: Impatiens buccinalis conhecida localmente como "camarões":
“A flor é vermelha e espessa, explica Paiva, para atrair e suportar o selelê (Anabathmis newtoni), uma ave que também é única de São Tomé e que é essencial para a polinização da planta.” In http://www.publico.pt/temas/jornal/130-anos-de-natureza-numa-semana-26940376
Pelas 5 da tarde chegámos à roça Chamiço após 14 km de caminhada.
“Um pouco de história: esta roça foi deixada à D Laurina, das últimas trabalhadoras da roça. Quando esta senhora morreu a roça foi para a sua neta que também se chama Laurina. Aparentemente o seu pai tem negócios na capital e em Lisboa pelo que
Sanzalas
passa pouco tempo na roça. A Laurina fala mal português (é difícil a comunicação). A sua filha, de 12 anos, praticamente não fala português. Não compreendemos como… não irá à escola?! Num dado momento perguntámos qual era o tamanho da fruta jaca que ainda não tinhamos visto… ao que a Laurins respondeu “tamanho normal…” o que será “tamanho normal”?
Há a possibilidade de se ficar nas antigas sanzalas que foram recuperadas ou ficar na casa senhorial.

 Existem sinais indicativos das sanzalas escritos em português, inglês, francês e … chinês!
Indicações multilíngua na Roça Chamiço

 Nós ficámos num dos quartos da casa senhorial. São quartos grandes, com um grande pé direito, tornam-se ainda maiores e espaçosos pelo facto de estarem vazios, à exceção de uma cama que foi deixada no meio do quarto.
Depois de vermos o quarto na casa senhorial perguntámos se podiamos ver os quartos da sanzala, a Laurina olhou para nós espantada: “o quarto que viram não está bem? Agora estou a fazer o jantar, não posso ir mostrar os outros quartos.” Quase que fomos levados a pedir desculpa pelo pedido…
Aqui, à semelhança de muitos outros sítios em S.Tomé, também foram montados candeeiros de exterior com o escrito “Amor de Taiwan”, são a LED e painel solar.
T
Candeeiro "Amor de Taiwan"

Curiosamente não há eletricidade na casa pelo que tudo se faz à luz da vela e de candeeiros a petróleo… enquanto que lá fora iluminam a rua onde não passa ninguém durante toda a noite. Teria sido mais útil se os candeeiros permitissem iluminar dentro de casa. Dentro de casa proliferam os eletrodomésticos! Como? Se não há eletricidade? Não compreendemos. Têm frigorífico, arca congeladora, aparelhagem de som, televisão… A resposta que nos foi dada: “pode ser preciso”. Refira-se que vimos 2 pequenos geradores.
Quando chegámos umas galinhas sairam assustadas da cozinha. Os animais encontram-se livremente à volta da casa (bem como os seus dejetos!) Galinhas, porcos, cabras, cães… Sente-se um cheiro (não muito intenso).
Curiosamente, dentro de casa, tudo parece bastante asseado.
Não compreendemos porque é que as pessoas tem tantos cães. Estão sempre esgazelados, parece que as pessoas não lhes dão de comer… são muito mansos… para que servem? Embora não se vejam gatos explicaram-nos que as pessoas os têm em casa e que se eles fogem para a rua, morrem logo pois alguém os apanha para os comer!! São úteis para apanhar os ratos.
(Mais tarde no ilhéu das Rolas explicaram-nos e vimos  os cães de facto em acção: os cães servem para apanhar os porcos quando estes fogem para o mato.)
Ainda quanto a animais não existem muitos mosquitos nesta roça devido à altitude.
A meio do jantar apareceu o pai da Laurina. O senhor muito elegante falava um português perfeito que contrastava com o português da filha e a ausência de português da neta.
Montaram uma varanda grande em madeira onde tomámos o “mata bicho”, embora a Laurina nos tenha inicialmente posto a mesa de pequeno almoço numa sala no interior, a tal sala cheia de eletrodomésticos. A varanda tem uma boa vista para a roça e lá ao fundo vê-se a capital e o mar.
Conclusão: A nossa vinda à roça Chamiço foi uma experiência enriquecedora. Se compararmos com um resort do grupo Pestana (ou outro qualquer) diria que se ganha muito mais em descobrir a ilha aqui do que num resort em que tudo é igual, independentemente da localização do mundo. Aqui podem conhecer a realidade das pessoas, perceber como está a evoluir STP. No entanto exige do turista uma grande capacidade de adaptação e flexibilidade. Os cheiros, os sabores, os sons, tudo é intenso. Ficar num local assim não é para todos os turistas. Muitos terão dificuldade em adaptar-se às condições de higiene abaixo dos standarts europeus.
Escusado será dizer que não há água quente, mesmo a fria corre com uma cor acastanhada.”

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